terça-feira, 22 de junho de 2010

População Brasileira tem Preferência ou Simpatia pelo PT

Quase um terço da população brasileira tem preferência ou simpatia pelo Partido
dos Trabalhadores.
De acordo com o levantamento, que também revelou um crescimento significativo da pré-candidata petista à presidência, Dilma Rousseff, 29% dos brasileiros manifestaram preferência partidária pelo PT. Por outro lado, partidos como o DEM (ex-PFL) e o PSDB contaram apenas com 1% e 6% da preferência do eleitorado, respectivamente.
Os dados, na avaliação do deputado Ricardo Berzoini (PT-SP), ex-presidente do PT, demonstram que apesar do ataque constante de setores da grande mídia brasileira, o partido continua contando com a confiança dos brasileiros. "O PT é um partido muito presente na vida institucional e social do país. Esse índice de 29% poderia ser ainda maior, se não fosse a parcialidade negativa da grande mídia brasileira que, constantemente, tenta denegrir a imagem do PT", disse Berzoini.
De acordo com o parlamentar, a pesquisa desmistifica ainda uma tese equivocada de que o partido estaria envelhecendo, já que a sigla completou 30 anos de sua fundação. De acordo com a pesquisa, 28% dos brasileiros que preferem o partido são jovens, na faixa etária entre 16 e 24 anos. "Temos presença em todas as faixas estarias e um especial apreço pela juventude.
É bom lembrar que o Brasil é um país sem tradição partidária. A preferência absoluta pelo PT mostra que o partido está enraizado nas lutas históricas dos brasileiros", destacou.
O líder da bancada petista na Câmara, deputado Fernando Ferro (PT-PE), chamou atenção para o grau de escolaridade elevado dos eleitores que preferem o PT. Segundo o levantamento, 28% do eleitorado que tem simpatia pelo partido possui ensino superior, 30% tem o ensino médio, 27% o ensino fundamental e outros 29% até a 4º série.
"Somos um partido com a maior expressão política do país. Isso demonstra que o PT é uma sigla reconhecida em todos os graus de conhecimento, escolaridade e faixas etárias", explicou Ferro.
O líder do PT acredita que a popularidade do partido deverá pesar bastante nas eleições que se aproximam. "Isto indica que temos condições de ampliar bastante a nossa bancada no Congresso Nacional e, ao mesmo tempo, eleger mais governadores, prefeitos e vereadores, além da sucessora do presidente Lula, Dilma Rousseff", avaliou. Uma pesquisa feita pelo PT há cerca de dois anos mostrou que, na época, o partido já contava com 23% da preferência da população.

Por Imprensa PT-SP (www.ptnacamara.org.br)

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Uma situação boa demais para o governo

A geração dos brasileiros que eram adultos no final da ditadura militar (1964-1985) nela incluídos o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), o ex-governador José Serra (PSDB), a ex-ministra Dilma Rousseff (PT) e a ex-ministra Marina da Silva, não presenciou um momento como esse antes e dificilmente viverá um outro. Não vai dar tempo de assistir uma reedição desse período, o único da história do país com alta taxa de crescimento econômico e democracia. Daí a dificuldade da oposição de alinhavar um discurso que seja consistente para ganhar o apoio de um eleitorado majoritariamente governista, satisfeito com a vida que tem e que acha que a sua vida vai melhorar com a continuidade, e não com a mudança.
O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre do ano de 2010, comparado com igual período do ano passado, foi de 9%, segundo foi anunciado essa semana. No artigo “Eleições presidenciais 2010: ruptura ou consolidação do pacto social”, publicado pela revista “Em Debate” da UFMG, o cientista político Ricardo Guedes Ferreira Pinto, do instituto de pesquisas Sensus, lembra que, de 2002, último ano do governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC), até agora, as reservas internacionais pularam de US$ 35 bilhões para US$ 240 bilhões; o salário mínimo, de US$ 80 para US$ 280; o índice Gini caiu de 0,58 para 0,52 (quando mais próximo de zero, maior a igualdade); 30 milhões de pessoas das classes mais pobres ascenderam à classe média; 10,6 milhões mudaram de favelas. O PIB saiu de um patamar de US$ 500 bilhões para US$ 1,5 trilhão. Há uma forte identificação desses dados sociais e econômicos positivos com o governo Lula. Diz Guedes, citando pesquisa Sensus de maio, que 57% dos brasileiros acham que esses benefícios foram gerados pelo governo petista e apenas 17% consideram que eles vêm do governo de Fernando Henrique Cardoso.
Um candidato oposicionista terá grande dificuldade de abalar essa convicção sobre o governo Lula que está tão alicerçada na opinião pública. José Serra (PSDB) poderia tentar isso pelo convencimento de que tem maior capacidade do que a escolhida de Lula para aprofundar as conquistas do atual presidente. Segundo a pesquisa Sensus, essa já é a opinião de 26% dos entrevistados. A alternativa do candidato de oposição seria a desqualificação pura e simples da sua adversária. É um caminho que pode parecer mais fácil do ponto de vista retórico, mas com grandes chances de fracassar, diante dos índices de popularidade do governo.
As pesquisas indicam que 2010 começa sob o signo do governismo. As séries históricas das pesquisas reiteram que esse é um período histórico singular. Segundo a CNT-Sensus, de 1998 até 2002, o governo Fernando Henrique manteve uma avaliação positiva nunca maior do que 32% (em dezembro de 1998). A menor foi de 8%, em setembro de 1999, repetida em outubro daquele ano. A menor avaliação positiva do governo Lula foi de 31,1%, em novembro de 2005, no auge do chamado escândalo do mensalão. Segundo a pesquisa de maio de 2010, a oposição lida com uma avaliação positiva do governo Lula da ordem de 76,1% .
O CNT-Sensus passou a apurar separadamente o desempenho do presidente da República e o do governo a partir de 2001. FHC alcançou seu maior índice de aprovação em abril de 2001, de 46,1%. O pior desempenho de Lula foi de 46,7%, atingido em novembro de 2005. Em maio de 2010, Lula tinha a aprovação de 83,7% dos entrevistados.
Em 1996, uma pesquisa Ibope encomendada pelo Palácio do Planalto foi noticiada pela revista “Veja”. Comparava o desempenho de todos os presidentes da República pós-redemocratização no final do primeiro ano de mandato. FHC tinha 43% e era o campeão, segundo a revista: Sarney teve 36%, Collor, 30% e Itamar, 13%, na soma das avaliações ótima e boa. Sarney chegou a 85% no Plano Cruzado. O plano se foi e Sarney terminou o governo com 9% de popularidade, em 1988. Na matéria, intitulada “O povo está gostando” (3/1/96), o presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, dizia, sobre o Plano Real, que respaldava FHC: “Enquanto os números econômicos forem favoráveis e o brasileiro estiver podendo comer mais, pode botar quarenta pastas rosas, trinta sivans que não haverá queda na popularidade de FHC”. Montenegro se referia aos escândalos políticos, que não teriam o poder de atingir o chefe do governo.
Com uma popularidade – dele próprio, não de seu governo – que atinge os 92% na região Nordeste e junto aos eleitores que ganham até um salário mínimo, o presidente Lula será o grande eleitor das eleições de outubro. Segundo a mesma pesquisa, 27,1% dos entrevistados apenas votariam num candidato indicado por Lula; apenas 3% votariam exclusivamente num candidato de FHC. Dos ouvidos, 20,7% não votariam num candidato de Lula; 55,4% rejeitam um candidato de FHC. Mais eleitores – 44% – levam em conta prioritariamente os benefícios econômicos e sociais do governo do que a experiência administrativa do candidato (34,9%). A esmagadora maioria dos entrevistados se declara satisfeito com a vida que está levando hoje – 10% estão muito satisfeitos e 73% estão satisfeitos.
É difícil montar uma estratégia oposicionista eficiente num quadro tão favorável ao governo como esse. Por isso ganham relevo dossiês cujo conteúdo não se tornam públicos e denúncias com sentido dúbio. É a tática de firmar sensos comuns por repetição de fatos cujo conteúdo não é claro, mas emergem acompanhados de um julgamento moral que atribui intencionalidade subjetiva e maliciosa aos adversários, mesmo que racionalmente não se identifiquem razões para isso. Se colar, colou. Se não colar, deixa-se de lado e se prepara um novo ataque.
O que se destaca no momento eleitoral que a ofensiva oposicionista é proporcionalmente mais agressiva do que as próprias pesquisas eleitorais, que ainda registram um equilíbrio nas posições de Dilma e Serra. Sinal que o diagnóstico oposicionista é o de que a situação é boa demais para o governo, para não ser igualmente boa para a candidata do governo.

Maria Inês Nassif é repórter especial de Política.
E-mail: maria.inesnassif@valor.com.br

terça-feira, 15 de junho de 2010

Sou eu o deficiente? (Frei Betto)

Porque sou tetraplégico, preso a uma cadeira de rodas, chamavam-me de "aleijado". Por sofrer de cegueira, fui considerado "deficiente físico". Psicótico, trataram-me como um bicho de sete cabeças. Agora, por ter perdido um braço num acidente, cuja pancada deixou-me leso, sou qualificado de "portador de deficiências física e mental".
Mudam os termos, mas não a cultura que ponha fim aos preconceitos que me cercam. Antes, diziam que sou mongolóide; agora sofro de síndrome de Down. Era leproso; agora tenho hanseníase.
Nesta sociedade contaminada pela síndrome de Damme, e que cultua a idolatria dos corpos - ainda que a cabeça se assemelhe à do camarão - sou confinado, léxica e socialmente, às limitações que carrego.
Se saio à rua, pouco encontro rampas, em calçadas e prédios, para passar com a minha cadeira de rodas. Com freqüência, há um carro estacionado na vaga a mim reservada. Temo um novo atropelamento ao cruzar a rua, pois o tempo do semáforo e a fúria dos motoristas não respeitam a lentidão deste corpo que se apóia na bengala.
Muitas vezes, na rua, dependo da solidariedade anônima para subir para o ônibus ou poder sentar no metrô. À noite, sonho com fantasmas gritando em meus ouvidos:
Fique em casa! Sua debilidade é o seu cárcere! Não se atreva a imiscuir-se neste mundo de corpos esbeltos e saudáveis, sarados e curados, lindos e louros. Não se manca que esta nação cultua heróis que ousaram desafiar os limites do corpo? O Brasil tem um santo canonizado, embora o Peru tenha um casal, Rosa de Lima e Martinho de Porres. Nunca o prêmio Nobel chegou a estas terras. Só em poesia, o Chile ostenta dois, Gabriela Mistral e Pablo Neruda. Em compensação, chutamos a bola como ninguém (embora não estejamos em nossos melhores dias), corremos na Fórmula 1 numa velocidade que nenhum outro mamífero alcança; erguemos os braços vitoriosos em quadras de tênis e vôlei. Você, nem herói nacional pode ser! Se ao menos pudesse requebrar sobre o gargalo de uma garrafa, haveria de merecer o seu minuto de fama. Fique em casa!


Não fico. Nem aceito que minhas limitações permaneçam estigmatizadas por expressões equívocas. Não sou uma pessoa com deficiência . Sou uma pessoa com inteligência, aptidões e talentos. De dignidade e cidadania. Por quê não qualificam de deficientes visuais aqueles que usam óculos?
Todos temos direitos universais. Tenho direito também aos equipamentos sociais, prioridade no atendimento público, Quero ser definido, não pela carência que atinge a minha saúde, mas pelo direito que a sociedade está obrigada a me assegurar.
No mês de agosto, é a mim que o Ano Internacional do Voluntariado dedica sua atenção. O Comitê Brasileiro de Voluntariado e o Centro de Voluntariado de São Paulo esperam que a campanha deste mês sirva para mobilizar todos aqueles que podem ajudar-me a ser reconhecido como cidadão.


Como qualquer pessoa, preciso trabalhar. Sei que não tenho aptidão para certas tarefas, devido ao meu descontrole motor. Mas de quantas coisas sou capaz, graças à minha inteligência e cultura, habilidade e talento! Sei pintar com a boca ou com os dedos dos pés; posso ensinar idiomas ou computação sem me erguer da cadeira; sou bom no controle de qualidade dos produtos.
O que seria de nós se Beethoven fosse discriminado como surdo e Stephen Hawking como aleijado? E se Van Gogh permanecesse internado após cortar a própria orelha? E se Lars Grael ficasse em casa lamentando a perda de uma perna?


Deficiente é quem traz, na vida, um déficit com quem depende de solidariedade: o pai que ignora o filho doente; a mãe que se envergonha da filha excepcional; o empresário que exige "boa aparência" de seus funcionários; o poder público que não constrói equipamentos, nem põe na cadeia quem discrimina as pessoas com deficiência.


Vontade de fazer as coisas eu tenho. Capacidade também. Sei que posso,só faltam oportunidades e quem reconheça que, aquém dos direitos especiais, tenho também direitos universais.

Frei Betto é escritor, autor do romance "O Vencedor" (Ática), entre outros livros.
Texto retirado do site:
http://www.adital.com.br/site/noticia2.asp?lang=PT&cod=1381

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Lula salta para a primeira divisão da diplomacia mundial

Transpirando autoconfiança, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva está elevando o status global do seu país ao protagonizar um número cada vez maior de iniciativas na área de política internacional. Na mais recente dessas ações, ele convenceu o Irã a concordar com um polêmico acordo nuclear. Poderia este acordo proporcionar uma oportunidade para que sejam evitadas sanções e guerra.
Ele foi acusado de ser muita coisa no passado, incluindo um comunista, um proletário grosseiro e um alcoólatra. Mas a época dessas acusações acabou há muito tempo. À medida que o Brasil cresce para tornar-se uma nova potência econômica, a reputação do presidente brasileiro cresce de forma meteórica. Hoje em dia muita gente vê o presidente como um herói do hemisfério sul e um importante contrapeso em relação a Washington, Bruxelas e Pequim. A revista de notícias norte-americana “Time” foi além, duas semanas atrás, ao afirmar que ele é “o líder político mais influente do mundo”, colocando-o à frente até mesmo do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. No Brasil, muita gente vê em Lula da Silva um candidato ao Prêmio Nobel da Paz.
E agora este homem, Luiz Inácio da Silva, 64, apelidado de “Lula”, que passou a infância em um cortiço como filho de pais analfabetos, conseguiu mais outra vitória política no exterior. Em uma reunião que foi uma verdadeira maratona política, ele negociou um acordo nuclear com a liderança iraniana. Na última segunda-feira, ele apareceu triunfante ao lado do primeiro-ministro turco Recep Tayyip Erdogan e do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad. Os três líderes chegaram a um acordo que eles acreditam que retirará da agenda internacional as previstas sanções da Organização das Nações Unidas (ONU) contra o Irã devido ao possível programa de armas nucleares do país. O Ocidente, que vinha fazendo pressões pela adoção de medidas punitivas mais duras contra o Irã, pareceu ter sido feito de bobo, e até ter sido pego de surpresa.
Mas o contra-ataque de Washington veio no dia seguinte, abrindo um novo capítulo nesta acalorada disputa nuclear, na qual Pequim, em especial, há muito vem resistindo a adotar uma abordagem mais dura. A secretária de Estado norte-americano Hillary Clinton anunciou: “Nós chegamos a um acordo baseado em medidas fortes com a cooperação tanto da Rússia quanto da China”. O texto relativo às sanções planejadas contra o Irã foi enviado a todos os membros do Conselho de Segurança da ONU, incluindo o Brasil e a Turquia. Os dois países são membros eleitos para ocuparem durante dois anos esse conselho que têm 15 integrantes, e que precisa aceitar uma resolução com pelo menos nove votos para que esta possa ser implementada.
Os Estados Unidos mostram-se irredutíveis quanto às sanções
Clinton agradeceu especificamente a Lula pelos seus “esforços sinceros”. Mas a sua expressão indicava claramente que ela viu os esforços de lula mais como um impedimento do que como uma ajuda. “Nós estamos procurando o apoio da comunidade internacional a uma resolução composta de sanções fortes que, segundo o nosso ponto de vista, constituir-se-ão em uma mensagem muito clara a respeito daquilo que se espera do Irã”, afirmou Hillary Clinton.
Mas a abordagem menos confrontativa de Lula nesta disputa nuclear não seria muito mais promissora? Seria tão fácil assim desacelerar o “Lula Superstar”, que conta com o apoio da Turquia, um país membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan)? Quem quer que tenha acompanhado a carreira de Lula achará difícil acreditar nisso. Este homem sempre superou todas as resistências, e todos os cenários desfavoráveis com os quais se defrontou.
O pai dele abandonou a família quando Lula era bem novo, e a mãe mudou-se com os oito filhos do nordeste do Brasil para o sul industrializado, onde ela esperava aumentar as chances de sucesso da família. Lula só aprendeu a ler e a escrever aos dez anos de idade. Quando criança, ele ajudou a sustentar a família trabalhando como engraxate e vendedor de frutas, e também como operário de uma fábrica de tintas. Ele acabou conseguindo fazer um curso de torneiro mecânico. Quando Lula tinha 25 anos de idade, a mulher dele, Maria, e o seu filho ainda não nascido morreram porque a família não tinha condições de pagar por atendimento médico adequado.
Lula tornou-se politicamente ativo quando era jovem, ao ingressar em um sindicato e organizar greves ilegais na época da ditadura militar. Ele foi preso várias vezes na década de oitenta. Insatisfeito com os esquerdistas clássicos, ele fundou o seu próprio Partido dos Trabalhadores, que gradualmente transformou-se de um partido marxista em uma agremiação social-democrata. Ele concorreu três vezes, sem sucesso, à presidência, até que, na quarta vez, venceu a eleição presidencial de 2002 com uma vantagem significante sobre o seu adversário. Foram os indivíduos mais pobres que, em um país de extremos contrastes econômicos, depositaram as suas esperanças no carismático líder trabalhista. Quando Lula venceu a eleição, os indivíduos extremamente ricos, temendo que os seus bens fossem desapropriados, mantiveram os seus aviões a jato particulares abastecidos, prontos para decolar.
O herói dos pobres distanciou-se de revoluções
Mas aqueles que esperavam ou que temiam uma revolução no Brasil ficaram surpresos. Após tomar posse, Lula levou alguns dos membros do seu gabinete a uma favela, e lançou um programa de grande escala chamado “Fome Zero” para aliviar os sofrimentos dos desprivilegiados. Mas ele não assustou os mercados. Aumentos dos preços do commodities e uma política econômica moderna que enfatizou os investimentos estrangeiros, a educação nacional e recursos para treinamento ajudaram Lula a se reeleger em 2006.
O mandato dele termina em dezembro, e Lula não poderá disputar novamente a reeleição. Ele colocou a casa em ordem e cultivou uma potencial sucessora. Mas o presidente autoconfiante deseja evidentemente deixar também um legado político: ele considera uma missão sua transformar o Brasil, com a sua população de 196 milhões de habitantes, em uma grande potência mundial, bem como assegurar uma cadeira permanente para o seu país no Conselho de Segurança da ONU.
Lula reconheceu que manter boas relações com Washington, Londres e Moscou é algo que ajuda o Brasil a tentar alcançar essa meta. Mas ele sabe também que vínculos fortes com países como a China e a Índia, bem como o Oriente Médio e os países africanos, poderiam ser ainda mais importantes. Ele se considera um homem do “sul”, e um líder dos pobres e desfavorecidos. E, é claro, ele também reconhece as mudanças que estão ocorrendo. No ano passado, por exemplo, a República Popular da China ultrapassou os Estados Unidos como o maior parceiro comercial do Brasil pela primeira vez na história.
Lula é o único chefe de Estado que participou tanto do exclusivo Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, quanto do Fórum Social Mundial, que criticou a globalização, na cidade de Porto Alegre, no Brasil. Ele é um viajante infatigável, tendo visitado 25 países só na África, muitos países asiáticos e quase todos as nações da América Latina – levando sempre consigo uma delegação econômica. Lula prega incansavelmente a sua crença em um mundo multipolar. E, como Lula é um orador carismático e um “autêntico” líder trabalhista, multidões em todo o mundo o saúdam como se ele fosse um pop star. Na reunião de cúpula do G20 em 2009, em Londres, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que aparentemente é um fã de Lula, afirmou: “Eu adoro esse cara”.
No entanto, Obama não pode mais ter certeza de que Lula é de fato “o seu cara de confiança”. O brasileiro está ficando cada vez mais autoconfiante à medida que se distancia de Washington e, às vezes, chega até a buscar a confrontação com os norte-americanos.
Autoconfiança cada vez maior
O caso de Honduras é um exemplo dessa tendência. Os Estados Unidos, que sempre viram a América Central como o seu quintal, ficaram perplexos quando Lula concedeu abrigo ao presidente deposto Manual Zelaya na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa no ano passado e exigiu que tivesse uma voz no processo para solucionar o conflito. Ao recusar-se a reconhecer o novo presidente, Brasília se opôs ostensivamente a Obama.
Depois disso, as coisas aconteceram muito rapidamente. Lula viajou a Cuba, onde se reuniu com Raul e Fidel Castro e pediu um fim imediato do embargo econômico norte-americano à ilha. Para a alegria dos seus anfitriões, ele comparou os críticos do regime que sofrem nas prisões de Havana a criminosos comuns. Lula também fez questão de aparecer junto ao presidente venezuelano Hugo Chávez, que não poupa crítica a Washington e que está amordaçando cada vez mais a imprensa no seu país. Em uma entrevista a “Der Spiegel”, Lula definiu o líder autocrático como “o melhor presidente da Venezuela em cem anos”.
E quando recebeu Ahmadinejad em Brasília alguns meses atrás, Lula cumprimentou o presidente iraniano pela sua suposta vitória eleitoral impecável e comparou o movimento oposicionista iraniano a torcedores de futebol frustrados. Ele afirmou que o Brasil também não permitiria que ninguém interferisse com o seu programa nuclear “obviamente pacífico”.
Apesar dessa aproximação, muita gente manifestou ceticismo quando Lula seguiu para Teerã a fim de negociar um acordo nuclear com a liderança iraniana, especialmente depois que os iranianos não demonstraram quase nenhuma disposição para ceder nos meses anteriores. Em uma entrevista coletiva à imprensa com Lula, o presidente russo Dmitry Medvedev disse que a probabilidade de um acordo mediado pelo Brasil seria de no máximo 30%. Lula retrucou, dizendo: “Eu diria que as chances são de 99%”. Lá estava novamente em evidência o ego pronunciado do astro político em ascensão. “Ele acredita ser um trabalhador milagroso que é capaz de obter sucesso onde outros fracassaram”, diz Michael Shifter, um especialista norte-americano em América Latina.
Vitória inédita ou fracasso?
Neste momento, só existem indícios circunstanciais de que uma “vitória inédita” foi alcançada em Teerã após 17 horas de negociações. É também possível que a reunião tenha sido, na verdade, aquilo que o jornal alemão “Frankfurter Allgemeine Zeitung” classificou como um “fracasso”, ou apenas mais uma forma encontrada pelos iranianos, que em outras ocasiões foram frequentemente evasivos, para novamente paralisarem as iniciativas internacionais contra o seu programa nuclear.
Autoridades da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) em Viena afirmaram cautelosamente que qualquer fato novo no sentido de que se chegue a um acordo nuclear se constitui em um progresso. Os inspetores da AIEA são responsáveis por inspecionar as instalações nucleares de todo o mundo em nome da ONU. Eles recentemente descobriram mais indícios de um programa iraniano ilegal de armas nucleares e pediram a Teerã que cooperasse mais. A avaliação dos especialistas da agência, cuja comunicação com Teerã nunca foi interrompida e que jamais afirmaram algo que não fossem capazes de provar, terá agora muito peso. O fato de os iranianos só se disporem a apresentar o texto do acordo à AIEA “em uma semana” gerou dúvidas.
Os governos ocidentais têm manifestado muito ceticismo, e a resolução da ONU que Hillary Clinton tornou pública pouco depois do acordo de Teerã aparentemente deixou os israelenses preocupados. Alguns membros do governo de linha dura do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu estão criticando abertamente o acordo como sendo uma artimanha para aliviar a pressão internacional que é exercida sobre Teerã. O ministro israelense do comércio Benjamin Ben-Elieser afirma que Teerã está aparentemente “tentando novamente ludibriar o mundo inteiro”.
O acordo proporciona uma brecha ao Irã
O instituto norte-americano ISIS, que sempre defendeu uma solução negociada e que acredita que a “opção militar” para resolver a questão nuclear iraniana é impensável, fez uma análise inteligente do acordo Lula-Ahmadinejad-Erdogan. Na análise, os especialistas nucleares independentes do instituto divulgaram as suas preocupações e observaram os pontos fracos do texto do acordo que foi revelado até o momento.
Os iranianos só concordam em enviar 1.200 quilogramas do seu urânio de baixo teor de enriquecimento à Turquia, para receberem em troca combustível para o seu reator de pesquisas em Teerã. As dimensões do acordo correspondem àquelas de um outro acordo proposto pela AIEA em outubro do ano passado, segundo o qual mais de três quartos do urânio produzido no Irã seriam mandados para fora do país, fazendo desta forma com que a fabricação de uma bomba atômica se tornasse impossível. A ideia era que isso fosse uma medida fomentadora de confiança para proporcionar espaço para negociações.
No entanto, o acordo atual ignora o fato de que o Irã, após ter colocado em funcionamento as suas centrífugas em Natanz, aparentemente já conta com mais de 2.300 quilogramas de urânio. Em outras palavras, o acordo possibilitaria que Teerã ficasse com quase a metade desse material, que é um ingrediente básico para uma bomba nuclear, de forma que o Irã ainda contasse com matéria prima suficiente para atingir a “capacidade mínima” de fabricação de armas nucleares.
O acordo também proporciona uma brecha a Teerã: ele concede à liderança iraniana o direito de pegar o seu urânio de volta da Turquia se, na sua opinião, qualquer cláusula do texto oficial “não for cumprida”. E o mais importante é que o acordo não exige que Teerã suspenda o processo de enriquecimento de urânio. “Nós nem sonharíamos em fazer isso”, declarou uma autoridade iraniana. Mas é isso precisamente que a ONU exigiu inequivocamente com aquilo que a esta altura já são três rodadas de sanções.
Essas objeções todas não preocupam Lula. Ele demonstrou que não pode mais ser ignorado no cenário internacional. Na última terça-feira, os amigos do presidente brasileiro elogiavam os seus esforços no sentido de fomentar a paz durante a reunião de cúpula América Latina-União Europeia em Madri. A participação do presidente tinha como objetivo demonstrar que a “lula” possui vários braços. Ele provou que é capaz de nadar na companhia de grandes tubarões.
Por trás dos bastidores, o Lula Superstar gosta de falar sobre como obrigou os diplomatas brasileiros a abandonarem a “síndrome de vira-latas”, o seu termo para designar o profundamente arraigado complexo de inferioridade que os brasileiros demonstravam até recentemente em relação aos norte-americanos e aos europeus.
O fato ocorreu em 2003, na primeira aparição internacional importante de Lula, na reunião de cúpula do G8, em Evian, na França. Um grupo de pessoas estava sentado no saguão do hotel onde ocorria a conferência, aguardando o então presidente dos Estados Unidos, George W. Bush. Quando os norte-americanos finalmente entraram no recinto, todos se levantaram – menos Lula, que ordenou ao seu ministro das Relações Exteriores que também permanecesse sentado. “Eu não participarei desta subserviência”, declarou o presidente brasileiro. “Afinal, ninguém se levantou quando eu entrei”.

Der Spiegel
Erich Follath e Jens Glüsing
Tradução: UOL

quinta-feira, 10 de junho de 2010

A Indústria de Liminares

Fracassou a marcha para impugnar a candidatura Dilma...
Faliu. A indústria de liminares e a tentativa do DEM e do PSDB de judicializar a campanha não funcionaram. Fracassaram porque o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tem arquivado a maioria das representações feitas pela dupla. Fazem, com ostensivo apoio da mídia, apenas para tentar caracterizar como propaganda antecipada a ação política do presidente Lula e de sua candidata à sucessão, ex-ministra Dilma Rousseff (governo-PT-partidos aliados).


O TSE - o ministro Henrique Neves - julgou improcedente pedido do DEM de multa ao presidente Lula e ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (São Bernardo do Campo). Considerou prejudicada, também representação contra Dilma. O DEM queria o enquadramento dos três por propaganda eleitoral antecipada em evento dia 1º de Maio, quando Lula falando a 80 mil pessoas deu a receita para a continuidade de seu governo: "Para que continue, todos vocês sabem o que têm que fazer." O ministro reconheceu que isso não é propaganda eleitoral.


Henrique Neves rejeitou uma segunda representação contra o presidente e a candidata, referente ao pronunciamento presidencial em rede de rádio e TV no Dia do Trabalho, Para o ministro os autores da representação (os partidos de oposição), enganaram-se porque o nome de Dilma não foi citado naquela cadeia nacional. Portanto, assinalou, impossível ter havido propaganda subliminar pró-candidatura Dilma Rousseff.


Vão fracassando, assim, as tentativas do DEM e da oposição de criar condições para o tapetão, para fazer vingar a tese da impugnação da candidatura Dilma, Agem na surdina, como quem não quer nada, bem ao estilo udenista e golpista que vira e mexe ronda os pesadelos tucanos e pefelistas. Antes, quando se chamavam PDS, UDN, etc, no pré e pós 64, rondavam os quartéis. Tentavam os militares, capturavam o apoio dos oficiais a seu reacionarismo e desprezo à legalidade.

sábado, 5 de junho de 2010

Especialista diz que IBGE ignora número real de deficientes no Brasil

O especialista em esportes adaptados para pessoas com deficiência, Steven Dubner, que tem nacionalidade brasileira, francesa e norte-americana, disse, que o Brasil está 20 anos atrasado em relação à atual situação das pessoas com deficiência. Segundo ele, embora o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) diga que 15% da população tem algum tipo de deficiência, mas na verdade são 30 milhões de brasileiros. "Em média, cada bairro, de cada cidade, tem 10% de sua população com algum tipo de deficiência". Dubner esteve em Curitiba para uma palestra no Universo Totvs, evento da 7ª maior softwarehouse do mundo na área de ERP (Enterprise Resource Planning) que reúne profissionais relacionados à tecnologia da informação. É uma palestra motivacional, intitulada "Sabendo que era impossível, ele foi lá e fez".
Dubner revela outros dados importantes sobre a situação das pessoas com deficiência no Brasil. "Nem 1% deles praticam esportes em nosso país", afirmou. O também ex-treinador da Seleção Brasileira Paraolímpica de Basquetebol aponta uma solução para mudar essa realidade: "É preciso investir em educação e aproximar deficientes e não deficientes". O especialista diz ainda que no Brasil não se faz um marketing com as pessoas com deficiência com a mesma intensidade que se faz com as questões dos direitos da mulher e dos negros, por exemplo. Ele alerta para um outro número discrepante, mas, desta vez, em relação ao que acontece nos Estados Unidos. "Enquanto lá dez mil pessoas se tornam deficientes por ano, aqui são dez mil por mês", afirmou. O volume dá uma idéia da atenção que essas pessoas necessitam. O contexto só não é pior por conta de iniciativas como a da Totvs, uma das empresas que auxilia a Associação Desportiva para Deficientes (ADD). O pagamento pela palestra motivacional de Dubner, por exemplo, foi paga com cadeiras de rodas para crianças da ADD. Steven Dubner afirma que a ajuda à Associação traz muitas vantagens para as empresas interessadas. "A vinculação de qualquer empresa às ações da ADD costumam aumentar as vendas em 20%", disse o especialista.